Os Troianos




Prólogo

 Em uma pequena vila nórdica vive um ancião chamado Hank. Malicioso, porém sábio. Em sua casa suja e comprometida pelos cupins tinha uma vasta coleção de livros. Eles falavam sobre magias e lendas. Ele tinha pergaminhos sagrados com informações valiosas sobre os deuses. Tudo conseguiu com muito trabalho. Nada envolvendo a força, mas sim a astucia.
 Uma coisa era certa. A vida estava ficando difícil para Hank. Viveu em muitas vilas se refugiando da fúria dos deuses, e agora parece que foi encontrado novamente. Sua idéia: viajar no tempo, para um futuro bem distante desta realidade, uma era em que os deuses estejam caídos e só quem domina é o homem e sua ciência, só assim ele estará bem refugiado. Seus estudos o levaram a conclusão de que há um meio.
 Primeiro teria que ter um artigo único. Se olhasse em sua coleção possuía muitos objetos únicos, mas todos já tinham sua função. A pedra filosofal o que lhe garantia ter vivido tantos anos, uma pata de macaco que poderia lhe conceder cinco desejos desastrosos, uma flauta para invocar o dragão do submundo. O que poderia ser tão especial e único?
 Seus pensamentos o fizeram caminhar pela floresta. Chegou a uma clareira. Diferente do normal havia várias flores no chão gelado coberto de neve. Todas separadas por sua espécie. Provavelmente um jardim, mas de quem? Se espreitou pelos arbustos mais próximos do jardim. Viu a deusa da beleza nórdica, Freyja, ajoelhada na neve fazendo um montinho. Curioso perguntou:
- Jovem o que está plantando?
- Ainda não dei um nome... – respondeu a deusa – criei esta semente dos fios do meu cabelo... Quando florescer darei um nome.
- E essas sementes... Demoram muito a florescer? – Ele pergunta alisando a barba.
- Sim, floresceram apenas a lua cheia, diferente das outras flores ela se alimenta da luz lunar, não solar... - Ela respondeu, ainda sem olhar para Hank.
- Aposto que ela será tão bonita quanto você, e tão macia e perfumada quanto seus cabelos. – E dizendo isso, o velho Hank desapareceu pela floresta, retornando a sua cabana, Já sabendo qual seria seu precioso objeto. Aquele no qual depositaria a força para avançar no tempo e fugir da ira de Odin, Loki, Thor e tantos outros que irritara, enganando, roubando objetos de valor e desonrando.
 Hank esperava ansiosamente a lua cheia, para colher a preciosa planta de Freyja. Enquanto isso ele preparava o encantamento, tudo que precisava para fazer daquela flor mais especial que o normal, a tornar única.
 Finalmente o dia chegou. Era noite de lua cheia. Poderia ser uma tarefa fácil se as criaturas da noite não fossem tão ativas neste período. A lua cheia animava as alcatéias, fazia as Valquírias ficarem alertas, não que elas fossem um problema, mas Hank criou discórdia com elas também, talvez para um homem comum e armado com um machado fosse fácil perambular pela floresta a noite, mas para um homem tão vivido e arruaceiro como Hank, seria uma missão de mestre.
 Lá foi ele. Encapuzado e armado com um machado nas costas, tomou o mesmo caminho que havia tomado naquele dia e chegou ao jardim sem problemas. Ele se admirou quando olhou. Todas as flores do jardim dormiam fechadas, e sobre a luz branca da lua bem onde Freyja tinha feito seu montinho de neve estava uma belíssima flor, tão branca quanto a lua, suas pétalas compridas e abertas, diferente de todas as flores do jardim. Aonde a luz do luar a tocava era emanado um belíssimo brilho prateado.
 “Com certeza, esta planta será única!” Pensou Hank, se esgueirou para o jardim e foi até a flor. Arranco-a pela raiz e quando abriu sua sacola para fazer o encantamento foi surpreendido.
- O que está fazendo? – Pergunta Freyja nas sombras.
- Salvando minha vida. – Respondeu Hank sem ao menos olhar para ela. Sabia dos encantos de Freyja e já tinha ido longe demais para perder.
- Olhe para mim. – Disse Freyja calmamente. – Eu posso te dar o que você quiser, não precisa roubar o meu jardim. – Ela veio caminhando para a luz da lua. – Meu jardim, que eu cultivei com tanto carinho... Trabalho. – Ela agora fazia voz de choro, mas Hank não olhou para conferir se ela estava chorando mesmo, continuou mexendo em sua sacola a procura do vidrinho que continha o encantamento.
 Ele achou o vidrinho e ouviu os passos de Freyja pararem na neve.
- O que vai fazer!? – Seu tom de voz agora era desesperado. – O QUE VAI FAZER MALDITO HUMANO!
 Foi quando Hank ouviu rosnados, provavelmente os lobos vieram defender a deusa.
- Desculpe, mas um dia irei lhe pagar! ADEUS! – Disse derramando o encantamento sobre a flor que emanou um forte brilho que impediu os lobos de avançarem, apenas Freyja com seu dom divino, manteve os olhos abertos até o fim, vendo Hank desaparecer na luz e tudo escurecer novamente e o único brilho em que se podia ver agora, era o luar.